“Há 15 anos venho treinando meu olhar para auxiliar outros corpos a se vestirem de si mesmos, exercitando empatia, escuta e traduzindo o desejo que outros artistas tem de dançar, estar em cena, inscrevendo no mundo suas pulsões, urgências. Percebo que meu olhar, e as percepções advindas desse olhar, me levam a um estado de porosidade e abertura para ser atravessada por essa magia única que existe em cada pessoa-artista que cria. Com fidelidade, tentando sentir, sofrer, amar, gozar como o outro, mas também convocando a desafios e ao exercício de se vestir de possíveis “outros”, venho colaborando com a construção da fala autoral de jovens artistas ou daqueles que, embora bastante vividos, necessitam e prezam minha interlocução em seus processos. Estou tentando colaborar, dar passagem àquilo que é do outro e que quer/deve ser dito, contribuindo para que essa magia possa ser configurada, modelada e, enfim, oferecida como um presente caro e precioso ao público. Tenho feito esse exercício coreografando e dirigindo artistas independentes e grandes grupos de dança no Brasil e fora dele. Precisei, em algum momento, depois de ter estado muito no palco, ver de fora aquilo que pra mim havia chegado num certo fim de ciclo e passei a desejar tudo isso para outras pessoas, como se eu quisesse que todo mundo sentisse esse maravilhoso estado de presença que é estar em cena compartilhando uma certa verdade. Tendo sido solista de minhas próprias criações por bons 20 anos, conheço essa dor, esse medo e esse tesão de criar em solitude, tentando sacar de dentro a seiva que todos merecem provar”.
Residência Artística – Orientação e impulsionamento de investigação autorais em formato solo
com Morena Nascimento
13.05 a 17.05
14h às 18h
Quarta à Domingo
R$ 1200
Bolsas parciais e integrais disponíveis, limitadas.
Quem conduz
Morena Nascimento
Artista da dança nascida em Belo Horizonte em 1980, que se dedica a seu ofício como autora e gestora de seus próprios trabalhos desde 2001, como bailarina, coreógrafa, diretora, e professora de dança. Possuiu duas graduações em dança, uma pela Universidade Estadual de Campinas (2001) e outra pela Folkwang Hochschule (2007). Integrou como bailarina intérprete o Grupo Primeiro Ato de Belo Horizonte de 2001 a 2004 e posteriormente o Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, de 2007 a 2010, companhia com a qual continuou atuando como bailarina convidada, até 2019.
Se aprofundou no estudo da dança moderna americana frequentando aulas de dança no Limón Dance Institute em Nova York, em 1999.
Entende a criação como um modo de existir e crescer. Buscando provocações e contra argumentações para seu trabalho, tem criado obras autorais em parceria com inúmeros artistas de diversas linguagens como o cinema, a música, o teatro e as artes visuais, ao longo dos últimos 23 anos.
Atuou no filme “Elena”, de Petra Costa e “PINA”, de Wim Wenders. Coreografou grupos importantes como o Balé da Cidade de São Paulo, para o qual criou o espetáculo “Um Jeito de Corpo” (2018), apresentado no Impulstanz, Viena, em 2019, a Cia de Dança do Palácio das Artes, para o qual criou “LALANGUE” (2018), o Balé do Teatro Castro Alves, Ópera de Metz. Colabora também como intérprete em trabalhos dirigidos e concebidos por outros artistas.
A possibilidade de ser atravessada e provocada por outros olhares se tornou uma constante em seus trabalhos autorais mais relevantes como “Clarabóia” (2010 – parceria com Andreia Yonashiro), “Rêverie” (2013 – parceria com Carolina Bianchi), “Um diálogo entre música e dança” (2010 – parceria com o músico/arranjador Benjamim Taubkin).
Em 2015 recebeu apoio do Fomento à Dança da cidade de São Paulo através do qual pode aprofundar sua pesquisa com a criação, concebendo um trabalho para 10 bailarinos de diversos contextos artísticos e sócio econômicos.
Ministra cursos e workshops dentro e fora do Brasil. É mestre em dança pela Universidade Federal da Bahia e recentemente criou “Treasures”, espetáculo concebido para a companhia Folkwang Tanzstudio, em Essen, na Alemanha.
Sua experiência vivendo na Alemanha tendo integrado como intérprete a Tanztheater Wuppertal Pina Bausch lhe deixou muitas perguntas, com as quais tem jogado de forma poética em seus trabalhos autorais, profanando e reinventando seus modos de entender a construção cênica.
É mãe desde 2017 e mais do que nunca tem optado por trabalhar em contextos onde consiga criar com acolhimento, afeto e respeito às singularidades que a maternidade a convoca.
Nos últimos dez anos tem se dedicado fortemente às experiências artístico-pedagógicas ministrando cursos e aulas em muitas cidades brasileiras e também no exterior. Constantemente é convidada a realizar criações de obras para companhias nacionais e internacionais de dança.
Recentemente foi convidada como a primeira coreógrafa mulher a criar uma nova obra para o Ballet de Londrina, Paraná, com estreia prevista para outubro de 2024.
Atualmente colabora com grupos de pesquisa e criação do DEACE (Departamento de Artes da Cena) da UFSJ, em Minas Gerais.